domingo, 6 de julho de 2014

A Copa, as elites e outras discussões sem sentido

A Copa, as elites e outras discussões sem sentido

Há exatos 4 anos eu estava escrevendo uma série de Posts a respeito do que pensava sobre uma possível chegada de Dilma ao poder. Bom, infelizmente o que se seguiu foi um Post de silêncio que, por um bom tempo, foi o Post de congelamento do Blog. Contudo, as atuais discussões, debates e manifestações acabaram me levando a escrever de novo.

Talvez pelo fervor político trazido pelos protestos, talvez pela intensificação de sentimentos que a copa provoca na maioria dos brasileiros ou mesmo por alguns absurdos “nunca antes na história dessa república” vivenciados, o fato é que os movimentos anti-PT e, principalmente, os movimentos anti-Dilma têm tomado corpo e ecoado pelas ruas, estádios e redes sociais.



Mas, o que eu achava que a esta altura já não iria mais acontecer, pelo menos não por parte de pessoas com mais acesso à informação, é uma intensificação dos movimentos de defesa a eles. E está acontecendo.

Seja como for, acredito que estarmos voltando a discutir política é bom, precisamos deste engajamento das pessoas. Porém, até onde posso perceber, muitas discussões parecem estar circulando em torno de assuntos e argumentos um tanto quanto sem sentido.

Um dos assuntos favoritos da “galera” tem sido o debate dos “antis” que queriam “sabotar” a Copa (como se um Post em rede social, ou mesmo um escarcéu na rua, pudesse mesmo parar um evento deste tamanho) contra os que queriam ver (e de fato estão vendo) a Copa aqui nesse “Brasilzão velho sem porteira”.

Outro deles é a velha (bem velha mesmo, até um pouco “démodé”) luta entre as elites brancas, ricas e opressoras contra o povo “moreninho”, pobre e oprimido.

(Entre tantos outros debates acalorados mas que nada agregam a ninguém, mas por hora vamos nos concentrar nestes.)


“ANTICOPAs” X “COPEIROS”



Bom, eu certamente não acredito que a Copa possa ser encarada como um problema, como algo com que se deva lutar contra, aliás, sempre vi (agora não mais) a Copa como uma grande oportunidade de mudar a história do País, de investir em infraestrutura como nunca se investiu antes; de levar o metrô a lugares onde ele “há tempos” (como diria Renato Russo) é tido como um mito ou uma lenda urbana; de expandir o metrô em cidades como São Paulo para elevá-lo à extensão existente em cidades de outros países com o mesmo porte; de melhorar a acessibilidade em todo o País para que todos possam ter a liberdade de ir e vir e etc etc etc.
Fora que a Copa movimenta o comércio; a Copa movimenta o turismo; a Copa traz dólares, ienes, pesos, euros e muitas outras moedas para dentro do País; a Copa gera milhares de empregos diretos e indiretos; a Copa gera publicidade e visibilidade. Se a Copa, como muitos quiseram, fosse um desastre, a única coisa que aconteceria é que, aqueles que queriam roubar já teriam roubado, e os que nada tinham a ver com a história (o povo em geral) iriam perder a possibilidade de recuperar um pouco desse dinheiro de volta.

Me parece que as pessoas estão se concentrando tanto neste duelo sem sentido, que até já se esqueceram dos verdadeiros motivos pelos quais deveríamos estar brigando: O atraso proposital de obras para permitir mais gastos e menos (ou nenhuma) fiscalização, o superfaturamento, a lavagem de dinheiro (ou seja, roubalheiras em geral), as jogadas políticas e propagandas eleitoreiras descabidas, a inversão de prioridades etc.
Agora, o problema é a Copa ou a política? Bom, o Brasil não tem uma Copa desde 1950, já se foram 64 anos, acho que se o problema fosse a Copa já teríamos tido tempo de nos recuperarmos.

Outro dia estava assistindo um vídeo de Gabriel Pensador sobre estes problemas ocorridos na organização / viabilização da Copa e acho que a mensagem que ele tentou passar foi bastante sensata. Ele citou questões como os gastos excessivos com a Copa ou a isenção de impostos dado à FIFA, mas lembrou que a questão não era ficar contra a Copa e, sim, contra todos estes abusos e absurdos que o governo vem cometendo.
Na ocasião, sua indignação foi até bastante comedida (o que acho que é recomendável neste momento, já que a “velha inquisição” parece estar querendo dar o ar de sua graça novamente), mas algum tempo depois ele publicou outro vídeo mais contundente que, na minha opinião, só pela frase final já valeu a pena: “E se eu não puder falar disso porque tem que estar com medo de acharem que é campanha ... eu vou ter que ficar calado. Aí é melhor eu botar o meu chapeuzinho aqui do Sérgio Mallandro, curtir a copa e esquecer o resto né? Yeah yeah...”




AS ELITES BRANCAS x OS MORENINHOS OPRIMIDOS



Esta segunda discussão é a que mais me espanta estar ouvindo tanto!
Lula é “o filho do Brasil”. Lula é “o defensor dos fracos e oprimidos”. Lula está dando de comer àqueles que não tinham um prato na mesa.
Bom, não discuto que passar fome deve ser terrível e que eu não posso julgar aqueles que por isso passam. Concordo. Porém, vejamos, nas palavras do próprio Excelentíssimo Sr. Dr. Honóris Causa Luiz Inácio Filho do Brasil Lula da Silva, as reais intenções por trás do assistencialismo desenfreado praticado pelo PT:


“... E, lamentavelmente, você tem uma parte da sociedade que, pelo alto grau de empobrecimento, ela é conduzida a pensar pelo estômago e não pela cabeça...”. Isso é o que diz Lula. E ainda chama esta estratégia de “política de dominação”. Ora, se o próprio Lula prega isso, como acreditar nas boas intenções do “Bolsa Isso”, “Bolsa Aquilo” e “Bolsa Aquilo Outro”?

E se restar alguma dúvida quanto às intenções eleitoreiras das tantas bolsas, basta ver como candidatos do PT as tratam:


“Quem de vocês aqui, gosta do bolsa família, levanta a mão!”. Afinal, as bolsas são questão de gosto ou de necessidade? Uma medida de emergência ou um modo de vida?

Donos do Capital???

Agora... que estas pessoas mais humildes, sem oportunidade de estudo, sem acesso à informação, que passam pelas piores dificuldades e não podem nem ao menos dar um pouco de conforto a seus filhos sejam mais influenciáveis e “manipuláveis” é bastante compreensível.
O que me parece um tanto assustador é que pessoas muito diferentes deste perfil estejam sendo tão eficientemente manipuladas. É algo difícil de entender.

Há alguns dias li até alguns protestos de uma pessoa bastante jovem contra os “donos do capital”. Meu Deus... “donos do capital”?!
Até dei uma rápida “googlada” para saber qual a origem exata do termo. Disse o “pai dos burros” pós moderno que a frase é de Karl Marx. A informação não me pareceu muito confiável mas, enfim, certamente é um termo muito velho! Já um tanto quanto cheirando a mofo.



Já houve um tempo onde, aqueles que nasciam nobres, para sempre o seriam, tendo direitos hereditários à riqueza, ao luxo e aos abusos sobre os que eram “inferiores”. Assim como aqueles que nasciam “no povo” acabavam herdando de seus antepassados a triste condição de subordinados, pobres e explorados.

Esta condição sim configurava uma indiscutível imposição “social”, onde os nobres tinham direito à riqueza, ao luxo, à exploração das terras (feudos) e das pessoas, que dependiam da “boa-vontade” dos senhores feudais em lhes emprestar “um pedacinho que lhes coubesse daquele latifúndio” para poder ter onde viver e o que comer.



Algum tempo depois, passamos por outra fase onde até considero que este termo podia ser aplicado (e pelo que entendi foi quando o termo nasceu mesmo). Com a Revolução Industrial, a produção artesanal, individual e em pequena escala foi praticamente impossibilitada para diversos produtos ou serviços.
Nesta situação sim tínhamos pessoas que eram “as donas do capital”. Quem podia comprar máquinas “modernas” (para a época, é claro), adquirir novas tecnologias e recursos, estruturar grandes indústrias, contratar muitas pessoas e etc. dominava totalmente o mercado. Já aos demais, cabia lutar bravamente para tentar sobreviver (e não muito mais do que isso) ou submeter-se ao “poder do capital”.


Mas, hoje em dia, será que podemos mesmo falar em luta do “povo” contra os “donos do capital”? Será que realmente quem nasce rico está predestinado a continuar rico e quem nasce “pobre” (ou pelo menos não tão rico) está condenado a continuar pobre?
Estamos na era da informação. Na era do talento, do conhecimento e da visão sobre as oportunidades.
Você pode ter apenas uma boa ideia hoje e, amanhã, acordar com uma empresa de milhões de reais. Logicamente que não é assim tão simples, mas as oportunidades estão por aí. Ter dinheiro não é garantia de sucesso. E não tê-lo não é impeditivo para evoluir.

É claro que dizer que alguém que tem as melhores oportunidades acadêmicas possíveis tem as mesmas possibilidades de alguém que depende do ensino público (ainda mais no Brasil) é, no mínimo, ingenuidade (isso quando não for hipocrisia). Entretanto, por outro lado, dizer que não se teve oportunidades na vida por opressão dos ”donos do capital” já acho que seja “vitimismo” (quando não, oportunismo).

“Uns mais iguais que os outros”

Em Posts anteriores deste mesmo Blog fiz uma comparação entre a “política de dominação” que vem sendo utilizada pelo PT com a que foi utilizada pelos porcos do livro “A Revolução dos Bichos” (Título original: “Animal Farm”), de George Orwell (aliás, um dos livros que considero “leitura obrigatória”).
Na história do livro, os porcos emergiram como líderes e defensores dos animais da fazenda do Sr. Jones, o terrível opressor que os fazia trabalhar e se sujeitarem a uma qualidade de vida indigna e inaceitável. Entretanto, muitos dos animais não eram lá muito espertos e, por isso, criou-se um slogan que fosse fácil de entender e de repetir: “Quatro pernas bom, duas pernas ruim”.



Esta frase era perfeita pois, ao mesmo tempo que era simples e clara, gerava o ódio necessário dos animais pelos inimigos, os seres humanos.
Como diz o conhecimento popular, “nada melhor para juntar 2 pessoas do que um inimigo comum”. Acho que esta é uma frase realmente muito verdadeira (infelizmente).

Os discursos dos porcos incitavam a luta contra “os opressores” mas, mesmo na ficção, me parece que os discursos não são tão cheios de ódio e ignorância:


Este é um ódio gratuito, nocivo e infundado. Porém, outro dito popular diz que uma mentira, contada muitas vezes, pode acabar virando “verdade”. Me parece que, extrapolando um pouco esta frase, uma afirmação sem fundamentação, repetida várias vezes, também pode fazer as pessoas se esquecerem se houve ou não algum fato concreto fundamentando a alegação.
E, para garantir que todos entendam a mensagem, ela tem ainda algumas outras “roupagens”, como a luta dos brancos de olhos azuis contra os negros, índios, mulatos e outros “não brancos” ou mesmo daqueles que recebem benefícios porque são “sofredores e oprimidos” contra aqueles que são contra o assistencialismo porque “nunca precisaram ralar”, como se estas coisas fossem sempre fruto da hereditariedade e das imposições sociais, e não do mérito (ou demérito) próprio.

No caso dos porcos, eles pregavam que a “dominação” deveria ser extinta porque todos os animais são iguais e, por isso, mereciam direitos iguais. O que acho que é até correto, a partir do momento que os deveres de todos também sejam iguais, juntamente com seu esforço, dedicação, perícia, produtividade etc., o que é muito difícil... mas essa já é uma outra história... rs

Bom, voltando à questão da “igualdade”, a intenção poderia até ter sido nobre no início, porém, conforme os porcos ganhavam apoio, confiança e, principalmente, poder, a “igualdade” começou a sofrer alterações, com alguns deles passando a ser “mais iguais do que os outros”.



Conforme os porcos da Revolução dos Bichos se “empoderavam”, eles passaram a exigir cada vez mais regalias, ou seja, se tornavam “mais iguais que os outros”.
Logicamente que estas regalias não representavam nenhum abuso, apropriação indevida ou qualquer tipo de agressão aos ideais originais, eram apenas recursos necessários para que eles pudessem lutar pelos direitos de todos com mais força e eficiência, certamente.

Mas enfim, resumindo: no livro, um pequeno grupo que nasceu como o “defensor dos oprimidos” foi de tal maneira transformando-se (ou revelando-se) que, ao final, mal se podia diferenciá-los dos tão falados “opressores”.
Porém, os animais estavam tão fascinados pelo discurso eficiente, contundente e hipnotizante que mal podiam perceber o que estava acontecendo bem diante de seus narizes.
A situação se intensificou a tal ponto que o antigo lema “quatro pernas bom, duas pernas ruim” chegou a ser modificado para “quatro pernas bom, duas pernas melhor”!

E, coincidência ou não, parece que aqueles que, desde sempre, pregaram o ódio àqueles que oprimiam, hoje já não estão tão diferentes deles:


Primeiro o discurso raivoso e absolutista contra um determinado grupo. Depois o “relaxamento” do discurso, conforme as ferramentas da “opressão” passam para as suas mãos. Até que, de repente (e não mais que de repente), o discurso parece estar indo para o sentido oposto, sem que ninguém nem ao menos perceba.

O discurso raivoso pode até voltar a ser utilizado mas, surpreendentemente, defendendo os, anteriormente, opressores:


E, para os que percebem que algo saiu errado, o que sobra é:



CONCLUSÃO

Bom, as eleições se aproximam. Esperar que, no período atual, a Copa não fosse o centro das atenções, seria pedir demais. É claro. E é um momento bacana mesmo.
Mas torço para que, após este período, novas discussões venham à tona. E que o povo consiga se desvencilhar destes modelos mentais impostos por “porcos em pele de ovelha” para alcançar assuntos mais, verdadeiramente, relevantes.



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